RTs are endorsements!

With all this hype about Elon Musk buying Twitter, obviously a lot of people ended up going back to the site and seeing what it is… I myself am one of those people who went back to Twitter after Elon Musk bought the platform.

One of the things I did when I got back was to get the news about the transaction. Hence, it was inevitable to find profiles of journalists who were talking about the case and it didn’t take long for “RT is not an endorsement” to appear (or even “RT ≠ endorsement” for those who know how to copy-and-paste or even understand Unicode ) in the bios of some of them. This statement is easy to find; especially in profiles of journalists. I understand it to be a way for them (mainly journalists who cover the universe of politics) to exempt themselves from any responsibility associated with RTing a controversial message. But that always leaves me puzzled; even more so when it’s in a tech journalist’s bio. What pisses me off is that it’s simply not true. RT is a form of endorsement, yes. It’s in the nature of functionality. Just saying this in your profile does not resolve the fact that you are endorsing a message by retweeting it.

I explain by showing two (of several) things that happen when we simply retweet (RT) a message without context.

1 – Message amplification

When you RT any post on Twitter, the first thing that happens is that you amplify the original message for your followers (or for a fraction of them, for that matter… but still, it’s an amplification of the message). Making a message – even if you disagree with it – reach your followers is a way of endorsing the content of the original post. Put yourself in the position of a person who follows you. Suddenly that person following you sees a message in their feed with something you retweeted. Without any context, that RT signals to the person reading the tweet that you agree with it to the point of replicating the message to your followers. In other words: RT is endorsement.

2 – Platform signaling

Another thing that happens when we RT without any context associated with it is to signal to the platform that that content is of interest to you. Obviously the RT already signals to the platform that that content is of interest before anything else. But when you RT and don’t add any context, it’s you signaling to the platform that your profile is interested in that content and is recommending (endorsing, as I said above) that content to your network. If you don’t agree with something and RT that something, you’re sending the wrong signal to the platform. Then two things can happen as a result of this. The first is for you to signal to the platform that that content may deserve some attention. That’s normal. But doing that with content you don’t like is shooting yourself in the foot. You will be helping the platform to be a bad place for everybody. The second is you help the author of the original content to be promoted by the platform to people including your audience. This seems to be included in the previous question, but notice that by signaling this to the platform, that original profile, even if it is someone you don’t agree with at all, you are informing the platform that that content may be of interest to you , your audience (your followers) or people who look like you. I mean, nothing cool. By RTing a post and not adding any context, you are endorsing the original post. Understand it!

How to do it?

An important thing to do is to provide proper context to the RTs you give. By doing this you are letting your audience know that you disagree with what you are retweeting, you are explaining why you disagree and you are also (very important) associating the words in their context with the RT. This way you also teach the platform that that RT is associated with those words and this can help the platform to understand the reason for the RT and not necessarily understand that that original profile may be of interest to your audience.

Therefore, it is always good for you to give the context when you are going to replicate a message. Put your observation. This helps your audience (your followers) and also helps teach the platform that what is on your profile is associated with the words you used in your RT.

If you’ve read all of this and haven’t seen anything new, good for you! 🙂
However, this is likely not part of their repertoire (yet) and was new. In this case, the reason for using the video The machine is us/using us in my Communication and Digital Culture classes in the middle of 2022 is justified. It is that even though it was made there in 2007, the concepts prevail there.

Furthermore, there are many people who work with social media / digital communication who do not associate our actions on the platforms and what they learn with and about us.

Obviously, in the same way that platforms learn from us, they also learn that the association we make between our profiles and messages that we replicate (RT) without context are not necessarily affinity associations. But it’s also nice to understand that until that happens, the platform needs to know you and your interaction habits there. That comes with time. So, you need to be a very frequent user of the platform for this to have already happened. And it’s also nice to keep in mind that this learning about platforms only solves half of the issues I brought up in this post. The other half (confusing your audience) is not solved with this machine/platform learning. Your followers will be confused when they see something you’ve RTed without providing context in their feeds.

Now that you know this, make a commitment not to replicate a message without giving the proper context associated with it. Help your audience (and the machines as well) not get confused about your intentions. Believe me, not confusing the machines now can be useful to you in the future, when they take over. 🙂

O desafio das plataformas, dos governos e das sociedades

O texto publicado no The Intercept Brasil do dia 31 de março reflete sobre o caso de o YouTube vetar o impulsionamento do vídeo do episódio nº 139 do podcast Tecnopolítica.

Tanto o texto quanto o vídeo são bastante interessantes e eu recomendo que você preste atenção no que está lá.

Assistindo o vídeo, fui me lembrando de pontos que já haviam sido indicados em texto publicado lá em 2019 que versa sobre as necessárias reflexões acerca das plataformas sociais e o que fazemos com elas. Embora o texto de 2019 aborde principalmente o Facebook, acredito que a reflexão possa ser tratada para entendermos o que ocorreu e foi relatado no vídeo/podcast do Tecnopolítica e no texto do The Intercept Brasil.

Adotamos as plataformas sociais como parte importante das dinâmicas dialógicas que ocorrem na internet. Fazemos uso destas plataformas como se fossem parte de estruturas sociais inerentes às forças dos interesses financeiros de corporações. Só que elas não são. As plataformas servem a interesses das empresas que as mantém.

Estamos tão acostumados a levar nossas vidas considerando que “todo mundo está no twitter / facebook / youtube” que a gente se esquece de que estes espaços não são espaços públicos. Como dito, são aplicações privadas que pertencem a instituições comerciais que as exploram esperando um benefício financeiro. Como tais, seguem normas e atuam de acordo com os interesses das empresas que as controlam.

Isso quer dizer que as plataformas e empresas são essencialmente malvadas e que devemos evita-las? Obviamente não. Se não fossem as plataformas e as mídias sociais, muitos dos benefícios e movimentações sociais que presenciamos nos últimos anos não teriam ganhado a dimensão que ganharam ou mesmo teriam ocorrido.

Um longo caminho a seguir.
Não devemos observar as plataformas como isentas ou neutras. O mito da neutralidade deve ser definitivamente derrubado (este texto do pessoal do CHT é bem interessante neste sentido). Precisamos vencer essa ideia / utopia de neutralidade (seja de veículos de imprensa, governos e, claro, corporações).

O passo seguinte será vencer a ideia de que “já que não são neutras, estas entidades são malvadas”. Também não é bem assim. O importante é que nós – como sociedade – consigamos enxergar estas entidades como o que elas realmente são: a materialização ou operacionalização em ações de interesses de grupos de pessoas.

Nesse sentido, é de se esperar que governos, em tese, venham a representar interesses mais amplos, que visem o bem de todos aqueles que são representados por eles. Interesses específicos, vinculados aos ganhos financeiros são o que move as ações das empresas. Sabendo que são empresas que criam e mantém plataformas de mídia social, isso fica mais simples. De igual maneira, são empresas que detém o controle e pautam as ações de empresas de comunicação e mídia.

Concluindo?
Estão todos defendendo interesses. Como cidadãos podemos interferir no processo escolhendo bem os nossos representantes legislativos e executivos que vão trabalhar para defender nossos (sociedade) interesses, criando as regras e trabalhando para garantir a execução e o cumprimento destas regras.

Isso leva ao fato de que cabe aos legisladores criarem os regramentos que pautarão e regularão as ações das empresas e os governos atuarem no sentido de garantir que sejam cumpridas. No sentido específico do que venho tratando aqui, a regulação vale para empresas de mídia e comunicação e, claro, para as plataformas sociais. A regulamentação não significa e nem implica em censura ou mesmo cerceamento de liberdades. Entendo que devem ser mecanismos que garantam um funcionamento mais claro das atividades nas quais estas instituições estão envolvidas.

Se a gente escolher bem os legisladores e os nossos representantes no executivo, teremos (sociedade) mais chances de um futuro mais bacana neste aspecto.

No outro ponto estão as empresas e entidades comerciais que, no momento que o conjunto de regramentos estiver estabelecido e em operação, devem adequar sua operação e desenvolver políticas internas de trato das questões que proporcionem impactos para as sociedades em que atuam.

Se não existirem os conjuntos de normas e regras que instituam as fronteiras das ações das instituições comerciais, estas criarão as suas próprias regras, ocasionando em desdobramentos que não necessariamente agradarão ou mesmo atenderão os interesses das sociedades. As entidades comerciais, por sua vez, precisam atuar de forma a conciliar os seus interesses com aqueles das comunidades que atendem.

Despedido-me do VirtualBox

Desde 1992, quando ganhei um MSX Expert DD Plus (uau, tinha drive de disquete de 3 e ½!) de meu pai, que comprou na Mesbla (putz, estou velho mesmo), a minha relação com computadores é repleta de encontros e despedidas. Quando fui apresentado ao Windows 3.11, em 1995, despedi-me do MSX. Depois, em 2004 comecei a flertar com o Linux e, desde 2006, este foi meu sistema operacional principal por anos. foi durante este período que me apresentaram o VirtualBox (acho que comecei a usar porque o sistema de internet banking do finado Banco Real não funcionava fora do Windows). Desde então venho indo e voltando com o uso deste software.

Em 2016 voltei a usar o Windows como sistema principal. Eu havia passado por uma situação muito chata de quase ter colocado fogo no meu carro porque o diacho do Ubuntu não hibernou quando eu fechei a tampa do laptop e coloquei um computador que superaqueceu no porta-malas do carro. Enfim… Isso é papo para outro post quando eu tiver paciência. Disse um adeus para o VirtualBox. Minha intenção era migrar totalmente para os sistemas da Microsoft. Decidi assinar o Office 365 e OneDrive (começava o meu degoogle – ensejo para mais um outro post). Até abandonei o Android e decidi usar um Windows Phone (pasmem). Só que a coisa não durou meses (óbvio, né? Mas novamente papo para outro post).

Naquele mesmo ano, resolvi migrar outra vez de sistema de maneira radical e comprei um iphone e um macbook air. Eu os uso até hoje, atualizadinhos e não me dando qualquer trabalho. Com a migração para o sistema da Apple, algumas coisas permaneceram operando no Windows e o VirtualBox novamente se fez necessário.

Com o início do Regime remoto, o VirtualBox passou a servir também como o lugar onde eu acessava a VPN da Universidade. Isso até eu descobrir que o Remote Desktop da Microsoft funcionava de maneira mais bacana. Há coisa de uns dois meses vi que estava usando o VirtualBox apenas para emitir notas fiscais de minha empresa (eu ainda presto consultorias, sabe? ;-)). Resolvi tentar usar os certificados no Mac de forma nativa e hoje não mais precisei fazer a inicialização da máquina virtual para emitir nota. Tudo transcorreu de maneira bem suave.

Dessa forma, a minha característica de impulsividade se manifestou e já tratei de desinstalar o VirtualBox. Não se mostra mais necessário. Foi bom enquanto durou. Quem sabe um dia a gente se encontra novamente. Por enquanto, não mais.

Uma ideia para tentar combater a desinformação

Hoje pela manhã vi este post do Atila Iamarino no Twitter:

O Atila tem sofrido bastante na batalha contra a desinformação e senti nesta postagem dele um tom de desânimo.
Não jogue a toalha, Átila! A questão é complicada. Mas, graças a esforços como o seu, aos poucos, mais pessoas vão se juntando e o combate contra a desinformação cresce a cada dia. Não é o suficiente, é claro; nem tampouco a única coisa a fazer para minimizar os impactos das ações de desinformação. Para que isso funcione a contento, precisamos que as próprias plataformas sociais comprem a questão de verdade. Só que isso está longe de acontecer.
Para tanto, vamos tentar compreender melhor um cenário mais amplo, que acaba colaborando para este crescimento e o sucesso das ações de desinformação.

I – O modelo de negócio

As plataformas sociais como o Facebook e o Twitter têm o seu sustento na venda de publicidade. Tal qual na mídia de massa, quanto maior a audiência, maiores os investimentos em publicidade. Nesse sentido, uma coisa precisamos considerar: estas plataformas não têm um interesse genuíno em acabar com a desinformação, com os robô e com os perfis falsos. Quanto mais robôs, maiores serão os números que os departamentos comerciais das plataformas mostram para os anunciantes na dança da venda de espaços publicitários.
Dessa forma, as plataformas apenas atuam de maneira meio efetiva com relação aos robôs e perfis falsos quando algo muito grave aparece. Do contrário, é uma política bem conhecida: a de se fazer “vista grossa”. As plataformas fingem quem não enxergam o que está na cara.

II – Números inflados ajudam a fazer a máquina funcionar

Você pode se perguntar o que – além de ajudar a argumentar sobre a venda de publicidade – pode ser benéfico para as plataformas nessa atitude. Uma possível explicação é a de que os perfis falsos / as fazendas de robôs e correlatos acabam alimentando uma coisa que cresce com a nossa participação. As pessoas médias / normais não identificam de cara quando uma discussão é artificial, quando uma hashtag está sendo manipulada ou quando há uma fazenda de robôs em ação. A gente vai lá e interage com eles.
A gente responde. A gente discute, enfim… A gente acaba fazendo o que estes perfis falsos publicam reverberar junto aos nossos seguidores. E isso faz com que o assunto vire pauta. E, ao virar pauta de discussão, a “máquina” ou o conjunto de algoritmos que fazem as plataformas funcionarem como elas funcionam, acabam por entender que aquilo é interessante. E aí vão mostrar aquilo para mais e mais pessoas. Ao fazerem isso, mais e mais publicidade acaba sendo exibida e, lógico, as plataformas faturam.
Então, as plataformas acabam por fingirem que o problema não existe, pois isso as beneficia. E esse é o ponto que me ajuda a dar uma conclusão ao argumento de que as plataformas não querem que este cenário mude.
Se assim fosse (ou seja: se as plataformas quisessem atuar de maneira clara e objetiva para mitigar a desinformação), uma coisa a fazer seria atestar que não pudessem ser criados perfis falsos / fantasiosos ou com pseudônimos.

III – Plataformas sociais não precisam ser o lugar do anonimato

A argumentação de que algumas pessoas precisam de pseudônimos não convence porque estas plataformas não foram feitas para isso. Se alguém precisa vazar algum tipo de informação que vai colocá-la em risco por fazer isso, há uma série de outros espaços para fazê-lo. O Twitter não seria o lugar disso. Acaba sendo porque qualquer um pode criar uma conta com um pseudônimo e publicar o que quer.
Perceba. Minha questão não é com o fato de a gente poder publicar o que quiser. Isso é muito bacana nas plataformas sociais. O problema é isso conjugado com a possibilidade de criarmos múltiplas contas. Dessa forma uma pessoa pode, por exemplo, criar um perfil falso e difamar outra pessoa. A conjugação de um ambiente de criação de perfis livre e a possibilidade de podermos falar o que quisermos abre flancos para este (e outros) tipo de abuso.
Obviamente há modos de chegar até estas pessoas. Mas isso é moroso e em boa parte das vezes as pessoas que são vítimas de uma ação de difamação nem levam o processo adiante. Isso proporciona uma sensação de impunidade para quem comete tais atos. De igual forma para as pessoas que criam ações coordenadas de desinformação. O processo para chegar até elas e responsabilizá-las por suas atitudes é moroso e não costuma dar muito efeito. É como enxugar gelo.
Aí, o cenário que se constrói é o de que as plataformas são terra sem lei. Isso acaba por encorajar pessoas a trabalharem com a desinformação mesmo em perfis que sejam verificados, como vemos com alguns parlamentares e ocupantes de cargos do poder executivo em nosso país. A coisa vira uma bola de neve. Entendo que uma maneira efetiva de tentar minimizar isso seria as plataformas identificarem verdadeiramente quem é o dono de cada perfil. Isso faria o processo de responsabilizar pessoas que cometem atos de difamação e disseminam desinformação mais fácil. Por consequência seria mais eficiente para proporcionar punição.
Só que a gente acaba por associar a questão da liberdade de expressão com isso de criarmos perfis falsos / pseudônimos. Uma coisa não tem muito a ver com a outra. A possibilidade de criarmos pseudônimos dá a cada pessoa o ferramental para criar, digamos milhares de contas falsas e manipular hashtags. A operação de fazendas de bots é corriqueira e muito danosa.
E isso nada tem a ver com a questão da liberdade de expressão. A gente pode ter a liberdade de expressão mesmo com mecanismos de identificação apropriados em operação. Repito: se você precisa tornar públicos fatos / informações / dados que, se o fizer identificando-se de forma apropriada isso pode te prejudicar ou prejudicar pessoas de sua família, o Twitter não seria o melhor lugar para fazê-lo.
Acontece que, como disse lá no começo, a possibilidade de uma única pessoa criar dez, cem ou mil contas falsas é benéfico para a plataforma, que pode trabalhar estes números em suas argumentações de venda de espaços publicitários. Ademais, quando estas fazendas entram em ação, os diferentes algoritmos que operam nas plataformas usam as postagens para movimentar o espaço.

Para (tentar) concluir

Há algum tempo tenho argumentado que, embora estas plataformas de mídia social sejam privadas, elas acabaram sendo escolhidas pela sociedade e se transformaram em espaço de discussão pública. O Twitter, por exemplo, é observado continuamente e as reações que são enxergadas na plataforma acabam por pautar ações que impactam nas vidas de todas as pessoas. Um exemplo claro disso é o recente bate-e-volta de João Dória a Miami. Sua ida à cidade gerou tal celeuma (ostensivamente comentada na plataforma) que ele acabou por cancelar sua folga e voltar para o Brasil.
Ou seja: embora nem todo mundo esteja no Twitter, o que acontece ali reverbera enormemente. A conversa que ocorre ali é relevante para tomadores de decisão.
E, por mais que importantes pesquisadores do assunto tenham argumentado que as características destas plataformas não as qualificam para que as tratemos como esferas públicas de discussão, elas foram adotadas e são utilizadas como tal não obstante suas limitações.
Nesse sentido, entendo que elas precisam ser tratadas como algo que transcende um empreendimento privado para exibição de publicidade. Esta plataforma em questão (o Twitter) é uma adaptação da ágora. A conversa social acontece ali. Só que, quando a gente tem perfis falsos (entendendo aqui que estes são semelhantes, visto que não é possível identificar quem é a pessoa por trás de perfis que usam pseudônimos para, por exemplo, responsabilizá-las por suas postagens) na dinâmica da conversa, como saber se esta conversa não está sendo manipulada / artificialmente conduzida? E, se essa conversa acaba direcionando ações que impactam nas vidas de todos, aí a coisa fica séria.
Entende onde quero chegar? As plataformas se fingem de sonsas e as raposas aproveitam. Quem perde somos nós, nosso país e a democracia. Entendo que uma ação imediata e necessária seria a gente ter todo mundo usando perfis que efetivamente nos identifiquem. Quem sabe se a gente conseguir ter apenas, digamos, um perfil por CPF ou por CNPJ a gente consegue melhorar a dinâmica do que acontece nas plataformas?

Muriel Deacon

Muriel Deacon é uma personagem da série Years and Years. Se você não assistiu a série, faça a si mesmo este favor e assista. São apenas seis episódios. Te garanto que vai valer a pena.

A série mostra um futuro possível muito próximo. Imediato. É assustadora a semelhança com o contexto atual que vivemos. Como muitas produções da BBC (Black Mirror sendo o exemplo mais famoso) é uma crítica ao nosso presente.

O trecho acima é retirado do penúltimo episódio. Eu acho que ele é bem bacana para nos ajudar e nos motivar sobre decisões importantes que precisamos tomar para que evitemos chegar a um futuro tão estranho quanto o que a série mostra.

Como o meu contexto atual é o de olhar as plataformas como objeto de estudo, minha interpretação deste monólogo se encaixou fortemente com a questão de como precisamos sair delas o quanto antes para podermos evitar um futuro horrível. As indicações de que as plataformas agem ativamente para nos prejudicar como cidadãos estão aí. Só não percebe quem não quer. A edição de hoje da “The Interface” me motivou juntar o monólogo da Muriel com esta reflexão e postar estas linhas desordenadas aqui.

Precisamos sair das plataformas o quanto antes. Facebook e Twitter sendo os primeiros dos quais precisamos sair. Isso é urgente e precisa ser feito pela maior quantidade de pessoas possível. Se seguirmos o uso que fazemos dessas plataformas, a tendência é uma degradação exponencial.

Andrew Keen falou disso.

Bob Hoffman falou disso.

Zeynep Tufekci falou disso.

Jaron Lanier falou disso.

Eli Pariser falou disso.

Geert Lovink falou disso.

Shoshana Zuboff falou disso.

Só não vê, quem não quer. Instagram, Facebook, WhatsApp e Twitter devem deixar de fazer parte de nosso cotidiano. O quanto antes. E eles são apenas os primeiros que devem sair. Outras plataformas precisam ser eliminadas ou ter seu uso readequado. LinkedIn e YouTube se encaixam nesta segunda categoria.

Enfim. Sei que parece mais um rant. E é. Mas é um rant que precisa ser observado e seguido. Isso está fazendo mal para as pessoas. Para nós.

Refletindo sobre a ambígua característica das plataformas sociais

Logo após o massacre impingido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo em Paraisópolis, na madrugada do dia 01 de dezembro de 2019, um vídeo começou a circular nas plataformas sociais retratando uma reunião entre moradores do Morumbi, bairro vizinho de Paraisópolis e o comando do 16º Batalhão da PM. O vídeo não foi gravado após o massacre, mas sim vem do documentário Entremundo, de Thiago Brandimarte Mendonça e Renata Jardim, feito em 2015. O trecho que circulou foi editado a partir de dois pontos do documentário. O primeiro começa aos 13:50 e depois outro pedaço vem de 18:00. Veja o vídeo que circulou.

https://www.youtube.com/watch?v=rIFmUlRC1vE

Além de mostrar o ódio que os ricos sentem dos pobres no Brasil (não imagino que isso seja novidade para você), neste trecho há uma coisa muito importante, que passou desapercebida por muitos.

Não é o cara de terno e gravata falando cidaões (sic). Não é também o cara pedindo para “limpar” Paraisópolis.

O que quero ressaltar é uma frase impactante. Acho que dá para desenvolver algo a partir dela. Na frase, destacada a seguir a partir de um trecho de uma intervenção de um morador do Morumbi, pode-se perceber algo importante para desenvolvermos uma visão um pouco mais crítica das plataformas sociais:

“(…) olha, se tivesse um Batman – eu já escrevi isso várias vezes – se tivesse um Batman; um Batman na rua, ia matar todo mundo aí”

(referindo-se, obviamente à população de Paraisópolis)

Este trecho, bem pequeno, que passou batido para praticamente todo mundo que compartilhou e reverberou o vídeo editado, me acendeu uma luzinha importante, que se relaciona com muito do que venho discutindo sobre as plataformas de mídia e de rede social.

As plataformas proporcionam a catalise de uma coisa que é, ao mesmo tempo, o maior benefício e o maior malefício da Internet como ambiente de comunicação: qualquer um pode postar o que quiser.

Obviamente as pessoas podiam postar o que queriam antes de existirem e serem amplamente adotadas as plataformas sociais. Mas estas plataformas, como disse, proporcionam uma aceleração e alcance sem precedentes, funcionando como um catalisador.

Observando a frase destacada da fala do morador do Morumbi, não é exatamente a catalise que assusta, mas o fato de este morador usar em sua narrativa o argumento de que “já escrevi isso várias vezes”. É aí que quero chegar. As plataformas sociais permitem que falemos o que bem quisermos. Recebemos, por isso, likes e comentários; que acabam nos estimulando a falarmos mais e mais porque estes ativos intangíveis evidenciam o ganho de capital social, tão importante em redes sociais (digitais ou não).

A dinâmica social que percebemos em plataformas como o Facebook, Instagram e WhatsApp é bem semelhante à que vemos no trecho do vídeo. No trecho temos pessoas que pensam de forma semelhante e que se apoiam reunidas no espaço restrito do batalhão de polícia (um grupo de WhatsApp ou de Facebook apresenta dinâmica bastante semelhante) e que aprovam ou dão suporte ao que membros falam ao concordarem balançando suas cabeças e proferirem “humhum”, “é isso mesmo” ou apenas sorrindo. Nestes ambientes, falamos o que queremos.

Se não encontramos voz dissonante ou comentário contrário ao que foi falado, acabamos por acreditar que falamos algo importante e que pode ser repetido. Esta é a dinâmica perigosa.

Como estamos vivendo um período em que discordar é algo desvalorizado e que buscamos nos aproximar apenas daqueles que concordam com a nossa visão de mundo, corremos o risco de desenvolvermos a falsa sensação de que tudo o que falamos e pensamos é correto.

O cidadão do vídeo, que se gaba por já ter escrito isso várias vezes (provavelmente em grupos do FB ou do WhatsApp), não se sente constrangido de dizer que gostaria de ver alguém matando pessoas de quem não gosta ou por quem não nutre simpatia. Como ninguém provavelmente jamais disse a ele que desejar a morte de pessoas não é uma coisa bacana, ele não se sente minimamente acanhado de revelar esta sua vontade.

E esta é a dinâmica que impera nas plataformas sociais. Como Han fala exaustivamente, a negatividade é evitada a todo custo na sociedade contemporânea. Vivemos evitando qualquer coisa que nos faça ter que discutir. A problematização de questões é vista como negativa e queremos distância disso como sociedade. Textos longos são evitados e ridicularizados. Vale o meme e o riso fácil. Embora muitos memes tragam importantes reflexões, o que se vê é o trabalho de superfície; aquilo que traz o riso fácil e rápido. Ao invés de discutir e problematizar, cancelamos.

Enfim, o comportamento natural contemporâneo é o de evitarmos embates e nos cercarmos apenas daquelas fontes de informações com as quais concordamos a priori. Tiramos conclusões rápidas a partir de títulos compartilhados. Não clicamos nos links; compartilhamos, curtimos e seguimos adiante.

Tendemos a ignorar / deixar de seguir ou bloquear aquelas pessoas e fontes de informação com as quais discordamos, apenas as pessoas que concordam com a gente vai ver o que a gente posta e acabar interagindo com nossas postagens. A ausência de vozes que discordam do que falamos acaba por criar em nós a ilusão de que aquilo que falamos é a verdade; afinal, ninguém nos disse que não é. Então, é.

Nesse sentido, não há espaço mais adequado para a perpetuação deste comportamento que uma plataforma social que me permite este controle, de ver apenas o que eu quero ver e de falar o que eu quero para que pessoas que concordam comigo possam concordar e replicar a mensagem.

Este ambiente, o ambiente de uma plataforma social, é o ambiente onde aquele morador do Morumbi “escreveu várias vezes” e que validou a sua fala estapafúrdia, que torna externa a vontade de matar as pessoas de quem não gosta. Estamos todos, de uma forma ou de outra, nos comportando como este morador do Morumbi. Não que todos tenhamos vontade de matar outras pessoas como ele, mas fato é que estamos falando apenas coisas rasas para pessoas que concordam sem querer conversar e assim o ciclo vai se perpetuando.

Eu acho que é sobre isso (e como escapar disso) que devemos conversar em 2020, e daí para sempre. Como fazer? Eis a questão. Tem uma ideia? Comente. Vamos conversar em busca de uma resposta ou ao menos um caminho.

Para quem se interessou, eis o documentário completo, publicado no YouTube pelo Le Monde Diplomatique Brasil:

https://www.youtube.com/watch?v=emj6jqA6Ywg

 

Toda vez que vejo isso. . .

Toda vez que vejo uma ação de comunicação com o argumento de que tal empresa é “o Uber de XXX” ou “o Netflix de XXX” logo me lembro das sábias palavras da Lisa Simpson quando Marge fala da universidade McGill, num episódio da 22ª temporada:

Em outras palavras, o que a Lisa quer dizer (e que todo mundo deveria ouvir) é que “qualquer coisa que se denomina “o XXX do YYY” na verdade é o nada do nada”. Isso se aplica a muitos empreendimentos que apenas se espelham em outros. Não há identidade; capacidade distintiva. . . Enfim. Não há nada que os identifique, a não ser a sua semelhança (cópia) de uma outra coisa.

Ou seja: ainda há muito o que evoluir. . . 🙂

Intercom 2019 – Belém (PA)

No último dia 06/09 estive em Belém para apresentar um texto que está em desenvolvimento em meu grupo de pesquisa sobre a plataformização da nossa presença na Internet.

O título do texto é: “Precisamos conversar sobre o Facebook: Uma provocação sobre a plataformização das atividades sociais na Internet“. Ele faz parte de um conjunto de relatos de investigações que venho fazendo nos últimos anos.

A apresentação fez parte da programação do GP de Comunicação e Cultura Digital da Intercom. Durante o resto do evento participei de diversas sessões do GP e o aprendizado foi muito grande.

O texto, como dito, está em elaboração. A versão apresentada vai receber alguns aportes a partir dos ótimos inputs que recebi no evento e será publicado no e-book que o GP lançou este ano. Aguardem novidades nos próximos meses 🙂

 

Atrás do trilho, reside um velho milho

Outro dia um colega professor falou que escutar podcasts era uma tortura. Adorei.

Como você deve saber, ouvir podcasts pra mim é exatamente o contrário de uma tortura: é um enorme prazer. Aprendo muito. Este post, então, é apenas uma desculpa para recomendar a você dois podcasts bacanas. Tudo porque os seus episódios mais recentes falam sobre milho.

O primeiro deles é o 37 graus. Para mim, um dos melhores podcasts produzidos no Brasil na atualidade. Para contexto, recomendo o episódio Pipoca, Pamonha e Canjica. O episódio mostra muito da capacidade das apresentadoras/redatoras/produtoras de contar histórias. Fala, logicamente, sobre o milho.

O outro é o podcast do Duolingo em espanhol, que, em seu mais recente episódio, claro, fala também do milho. Adoro este podcast para aprender um pouco e minimizar os micos que pago quando me meto a falar espanhol.

Aproveito a desculpa dos podcasts para recomendar a você que escute uma música que gosto muito:

Algumas coisas que percebi durante o mês que usei o Nubank como meu principal cartão

Tenho o cartão de crédito do Nubank há alguns anos e priorizo o uso dele para fazer minhas compras pela internet. Ele se mostrou muito mais bacana do que o meu cartão anterior, do Santander. O que me fez priorizar o uso do Nubank para compras online foi o fato de repetidamente o Santander negar processar uma compra legítima que eu estava tentando fazer online e eu só conseguir fazer pelo Nubank. Você pode até argumentar que o Santander faz isso por segurança. Mas aí quando apareceu uma compra suspeita na minha fatura, novamente tive muito mais trabalho de cancelar e não ser cobrado indevidamente pelo Santander do que pelo Nubank.

Por isso (e claro, por uma série de outros motivos) o Nubank tem tomado de assalto (trocadilho infame) o mercado de serviços financeiros no país.

Recentemente foi habilitada pra mim a função de débito no Nubank. Achei interessante e resolvi passar um mês usando apenas o Nubank para débito e crédito. Foi julho. Assim que recebi meu salário, fiz um saque para garantir um $$ no bolso durante o mês (emergência, etc) e transferi todo o resto pra conta do Nubank; durante o mês usei apenas o cartão para débito e crédito.

A primeira coisa que senti foi um frio na barriga. Isso porque fiquei com medo de precisar fazer saques. Afinal, cada ida ao caixa 24h para tirar dinheiro de sua conta no Nubank vai te custar 7 dinheiros. Ou seja: se você vai tirar R$10, o que vai sair de sua conta são R$17. Assustador. Ainda bem não precisei fazer isso. Obviamente, como tenho conta no Santander, poderia tirar por lá. Isso me deixou mais tranquilo. Mas enfim.

Uma outra coisa que achei bacana foi usar apenas a aproximação do cartão para pagar coisas no débito. Achei muito legal e, ao mesmo tempo preocupante. Em alguns locais, apenas aproximando a compra já era processada. Em outros, além de aproximar, precisava digitar a senha. Em alguns, embora a maquininha tivesse o indicador de pagamento pro aproximação (algo que au acabei usando muito) os operadores nem sabiam do que se tratava. Fiquei um pouco preocupado com a questão da segurança. Qualquer pessoa com meu cartão poderia fazer comprar mesmo sem saber minha senha!!

Ao longo do mês tudo correu bem. Paguei todas as compras com o Nubank e foi uma experiência bem interessante. Já nos últimos dias de julho, ao fazer uma compra na loja do Leroy Merlin, o operador do caixa puxou papo quando fui pagar com débito Nubank e ele me deu uma dica. Ele disse que estava usando a conta do Nubank também, mas que fazia diferente. Ele passava todo o dinheiro para a sua conta do Nubank como eu. Mas ele não usava o débito. Apenas o crédito. De acordo com ele, o dinheiro ficava rendendo lá na conta e, quando chegava a fatura ele pagava com o dinheiro que estava lá. Ele disse que sempre dava para ganhar alguma graninha extra assim. Achei que o caixa da Leroy era realmente muito mais esperto financeiramente do que eu. A cada dia, um novo aprendizado 🙂

Enfim. O experimento foi legal para descobrir que eu realmente não preciso mesmo do Santander para viver. Embora a questão de pagar POR SAQUE seja bem ruim, tenho esperança de um dia isso se resolver e eu passar a usar apenas o Nubank.