Hoje eu escutei o excelente episódio “As redes da discórdia” do podcast “Ciência Suja”.
Recomendo que você escute e preste bastante atenção nas referências. O pessoal fez um trabalho muito bacana para organizar uma linha de pensamento coerente e que deixa muito fácil de entender de onde vêm parte da influência para o estado de discórdia e conflitos que vivemos.
Chamo atenção para o final do episódio quando o principal narrador faz uma reflexão sobre o antagonismo das “redes sociais”, quando ele recupoera o exemplo de quando seu laptop foi furtado e ele usou da dinâmica de redes que é presente na internet de forma bem prevalente para fazer uma vaquinha e recuperar o $$ para poder comprar outro computador e seguir trabalhando.
Aqui entra o motivo de eu estar escrevendo este post.
Minha questão com a abordagem que se tem tido sobre o assunto encontra um exemplo bem legal do problema que me refiro neste caso que o narrador do podcast fala.
Ele fica pesaroso porque acredita que as redes sociais podem ser bem bacanas (dando o exemplo da vaquinha para a compra de seu computador) e ao mesmo muito prejudiciais (com os vários exemplos que abundam no episódio).
Este antagonismo tem uma explicação clara e é esse exatamente o ponto que vem me incomodando.
As redes sociais são as conexões entre as pessoas. Elas existem desde que a gente (seres humanos) começou a se agrupar e viver em conjunto.
Ao chamar o Instagram, o YouTube, o TikTok e o Facebook de “redes sociais” as pessoas passam a confundir as coisas. Daí o antagonismo retratado pelo narrador do podcast. Ele não precisaria existir.
Facebook, Instagram, TikTok, YouTube e congêneres são plataformas sociais. Serviços de mídia social que têm características de rede, mas não são as redes. As redes são as conexões entre as pessoas que se manifestam nestes lugares. Nos sites de mídia social a gente consegue ver algumas redes, mas as redes extrapolam isso.
Pode parecer apenas uma questão semântica, mas é mais do que isso. pensa comigo…
Quando a gente chama estes serviços de “redes sociais”, estamos atribuindo a eles um poder que não é exclusivo deles. Reunir pessoas é algo que já fazemos coletivamente muito antes da internet. Isso proporciona excelentes consequências e também desdobramentos questionáveis. Já vimos tudo isso na história da humanidade até chegarmos ao século XX.
Foi ao final do século XX que começamos a ver na internet os serviços / plataformas de mídias sociais que exibem listas de atualizações de pessoas em forma de feed e que são montados por meio (primordialmente) de intervenção / manipulação algoritmica. Estes serviços comerciais que tem-se chamado – a meu ver equivocadamente – de “redes sociais”. Estes serviços, no entanto, são apenas espaços em que pessoas circulam conteúdo. Isso não tira deles relevância, mas não os qualifica como “redes sociais”. Chamar estes espeços de “redes sociais” é, nesse sentido, equivocado.
Além disso, a gente desvia o foco daquilo que é realmente prejudicial. A manipulação algorítmica destes serviços visando a maximização do tempo de tela para coleta ostensiva de dados e futura utilização em ações publicitárias altamente direcionadas.
E é exatamente neste ponto que está o problema que é discutido em quase todas as publicações citadas neste meu post e no episódio e, claro, no episódio em si.
Ou seja: o problema não são e nem está nas “redes sociais”. As ligações entre as pessoas nada têm a ver com isso.
O que acontece é que quando a gente adota massivamente plataformas sociais comerciais que visam o lucro e, por isso, manipulam algoritmicamente o que é exibido aos usuários, temos muitos problemas.
As plataformas sociais que não são manipuladas algoritmicamente (como o pixelfed, o mastodon e demais serviços que constituem o chamado fediverso) não têm as características negativas enumeradas no episódio e em publicações como o “máquina do caos”, por exemplo. Isso faz uma diferença danada porque quando as pessoas equivocadamente falam que o problema está nas famigeradas “redes sociais”, aquelas que não têm o feed manipulado por algoritmos acabam caindo no mesmo balaio de malvadezas criado por esta forma de enxergar o problema.
Desde 2019 eu venho testando diferentes bancos. A insatisfação com a instituição que eu estava usando há anos havia crescido tanto que eu, naquele momento, decidi fechar a conta e testar novas soluções. A portabilidade bancária é uma coisa libertadora.
A facilidade de abrir (e fechar) uma conta por um aplicativo ajuda muito no processo de pesquisa e definição de uma instituição bancária a usar. Mesmo que seja muito simples fazer todo o processo, entendo que o ideal é desenvolver uma relação mais duradoura com uma instituição bancária.
Eu testei e tenho testado alguns bancos ao longo destes anos. Já usei vários, mas acabei estacionando em uma instituição das mais tradicionais; daqueles bancos que tem agência. 🙂
Só que eu mantenho uma conta com apenas alguns centavos no Banco Inter pelos motivos mais preguiçosos:
shellbox
estacionamento rotativo
Há algumas semanas tenho me pegado pensando em como me desvencilhar dessa preguiça. Uma coisa me incomoda bastante e está ficando insustentável.
O aplicativo do banco Inter tem uma porção da tela mostrando postagens de pessoas e entidades ligadas ao banco e seus proprietários/controladores. Não há como desabilitar isso. O serviço se chama “Forum Inter”. Pessoal pegando pesado no esforço de influenciar os correntistas.
Eu consigo reconhecer algumas pessoas pelo nome, mas não sei quem são as outras. Imagino que sejam pessoas importantes do banco. Mas o fato é que isso pouco me interessa. Pouco me importa se eles são os donos da CNN ou se têm alguma opinião sobre o Clube Atlético Mineiro. Eu abri este aplicativo para fazer um pix.
Não quero uma dica de clube de investimento e nem saber qual foi o faturamento do banco no último trimestre. Como eu disse, eu quero fazer um pix.
Eu entendo ser este um “produto” que o banco usa para falar de si mesmo, das coisas que se relacionam com o banco e até acato a proposta de uma comunicação direta com o consumidor. Mas…
…tem três coisas que me incomodam profundamente nisso.
A primeira delas é que eu não pedi e nem permiti isso. Como consumidor de um serviço, sinto-me com o poder de escolher o que quero e o que não quero. Isso apareceu pra mim sem que eu quisesse ou solicitasse. Não é uma funcionalidade do serviço bancário e nem nada relacionado a uma. Nesse sentido, sinto-me desconfortável com aquilo na tela.
Eu não pedi e muito menos confio na capacidade de curadoria de conteúdo em forma de postagens curtas (à la twitter) de um banco. O espaço do aplicativo do banco é o espaço de realizar os serviços relacionados à minha vida financeira. E pronto. Este é o tipo de aplicativo que a gente abre, executa o que precisa e fecha. Não quero nenhum outro tipo de distração nesse processo.
A segunda coisa é a falta de controle. Vamos que o banco não abra mão dessa ferramenta. Como ela não é relacionada às transações que eu faço no aplicativo eu poderia simplesmente remover aquilo da minha interface.
Sendo esta porção da tela referente a algo que não é um serviço oferecido pelo banco, eu gostaria de poder simplesmente eliminar aquilo da interface. Mesmo que o banco ache isso a coisa mais legal em termos de comunicação, eu gostaria de poder remover aquilo. Falando em termos de experiência do usuário, esta porção da tela me mostra uma informação que eu não quero e nem pedi para ver. Não é algo relacionado ao serviço oferecido pela instituição; tratase de uma coisa totalmente secundária. Entendo que se houvesse um botão de “remover isso” eu não seria a única pessoa a apertá-lo.
A terceira coisa que me incomoda é o fato de este espaço poder ser usado para um tipo de comunicação e espalhamento de informações que não necessariamente servirão ao meu propósito como consumidor do serviço dessa instituição. Pelo contrário.
Quem diabos é Bernardo Pascowitch e porque o que ele está falando sobre Bitcoin está aparecendo na tela do meu aplicativo de banco quando eu quero apenas fazer um pix?
Quando você não está pagando por alguma coisa, você é o produto
Talvez das três coisas que eu falei acima, a terceira é a que mais me incomoda porque é algo que vai muito além da experiência ao usar um aplicativo. Os impactos podem ser muito mais profundos e marcantes. As consequências podem ser muito mais danosas.
Pensemos que o banco Inter tem mais de 34 milhões de clientes. São 34 milhões de pessoas que abrem este aplicativo quase que diariamente ou às vezes múltiplas vezes ao dia. Cada vez que cada um desses clientes abre o aplicativo, o banco (ou seus controladores) têm a oportunidade de “falar algo” para estas pessoas.
A CNN Brasil, outra empresa que os donos do Inter tem, é uma emissora de televisão que está 24 horas por dia no ar e não tem essa audiência.
Pensemos o que pode ser feito com uma audiência desse tamanho. No caso da imagem que eu coloquei acima, uma pessoa falando sobre Bitcoin tem uma audiência potencial compulsória de 34 milhões de pessoas.
Não é uma pessoa qualquer e muito menos é alguém que eu escolhi acompanhar ou mesmo querer saber o que pensa sobre Bitcoin. Alguém escolheu isso pra mim e está me forçando a ver isso na tela do aplicativo de banco que eu abri quando queria apenas fazer um pix.
O tal Bernardo não é uma pessoa qualquer. O que ele fala traz uma agenda. Não necessariamente é a minha agenda. E é aí que mora o perigo. Ele e todos os outros que aparecem ali são pessoas com várias intenções e as 34 milhões de pessoas que estão potencialmente vendo estas postagens não fazem a menor ideia de quais são essas intenções.
Colocar uma ferramenta/funcionalidade/seção como essa num aplicativo de banco não é algo que acontece por acaso. Não é um tiro no escuro. É algo pensado e planejado e leva em conta (dentre várias outras coisas) o fato de 34 milhões de pessoas potencialmente verem aquelas mensagens diariamente.
Pensando nas potenciais consequências e desdobramentos disso me faz chegar à conclusão de que oferecer serviço bancário gratuito é um baita investimento para o Inter.
Ontem, dia 22 de outubro, a Meta (anteriormente conhecida como Facebook) começou a integrar umaferramenta dessas que estamos convencionando chamar de IA nos grupos do WhatsApp [1].
Ao que tudo indica, chegou a hora de a empresa coletar os dividendos resultantes do investimento feito em quando pagou 22 bilhoes de dolares pelo aplicativo de mensagens em 2014 [2].
Para fins de referência, a Meta pagou um bilhão de dólares pelo Instagram em 2012 [3]. Hoje, 12 anos depois, o Instagram proporciona à meta quase 50 bilhoes de dólares em lucro anual [4].
Era, portanto, de se esperar que a empresa estivesse investindo pesado em formas de lucrar com a compra do WhatsApp. Como comecei falando, parece que este momento chegou.
O potencial sempre foi alto (acho que isso fica claro ao observar o intervalo de tempo entre a compra do Instagram e a compra do WhatsApp e a diferença dos valores pagos pelos dois produtos). Apesar disso, até hoje o WhatsApp não mostrava números de faturamento muito convincentes.
Ainda assim, a empresa sempre apostou muito no aplicativo.
O motivo disso é bem claro: as informações que são trocadas dentro do ambiente do WhatsApp são valiosíssimas. É no WhatsApp que as pessoas vão trocar confidências com quem não está perto. É por ali que você e as pessoas com quem você tem intimidade vão conversar sobre coisas que não querem que o resto do mundo fique sabendo. São em diversos grupos de mensagens privados que funcionários agilizam a execução de tarefas e conversam sobre o trabalho em inúmeras empresas ao redor do mundo. O potencial deste mundo de informações é virtualmente ilimitado. Por isso que quase ninguém estrenhou que por dez anos o aplicativo seguiu gratuiito e gerando muito pouco em faturamento para o Facebook / Meta.
Dados de 2023 mostram que naquele ano, o WhatsApp gerou perto de 1.3 bilhão em lucro [5 ].
Voltando às comparações, isso é quase 50 vezes menos que o Instagram gerou em lucro no mesmo ano. Observando essa diferença e aquela outra referente a quanto cada um dos produtos custou, é de se esperar que a fome da Meta seja grande. Os acionistas devem estar mais do que ansiosos para ver o dinheiro começar a entrar de verdade em retorno pela compra do aplicativo dez anos atrás.
Com as ferramentas de aprendizado em larga escala, chegou a hora da colheita.
Mas aqui cabe um parênteses. Estou falando dessa forma, com a perspectiva de retorno efetivo de investimento começando a acontcer agora em função dos números reportados pelo Facebook / Meta. Há quem pense e insinue que ações de publicidade altamente direcionada no Instagram já estejam usando dados obtidos em conversas no WhatsApp há tempos [6].
Então… a ferramenta de IA no WhatsApp foi anunciada esta semana.
Desde ontem, para mim, os grupos dos quais participo agora tem um membro a mais, a IA da Meta. Isso não parece estar ainda 100% claro para todo mundo. Em meu caso, eu uso o WhatsApp no iPhone e no computador, versão web. Como na versão da web as coisas demoram a aparecer, não é de se estranhar que nada apareça lá durante os próximos dias ou mesmo semanas. No entanto, também não consigo ver nada de forma muito clara no aplicativo de meu telefone. A única coisa que percebo é essa diferença de uma unidade entre o número de pessoas declaradamente presentes num grupo e o numero de usuários que eu conto no grupo. Tem sobrado uma pessoa (a IA da Meta). Ontem, em um dos grupos que participo, algumas pessoas ficaram “conversando” com essa IA. A ferramenta argumenta que basta que retiremos este membro do grupo para que o recurso de IA nao seja usado.
Só que as coisas não são bem assim.
O fato de a empresa ter inserido um componente no grupo a revelia dos participantes é complicado.
Outra coisa a considerar é a assimeteia de poder, muito bem argumentada pela Cathy O’Neil no livro Weapons of math destruction [7]. Quando nós (pessoas) entramos em um grupo de WhatsApp, não temos acesso ao que foi discutido antes de nossa entrada lá. Faz sentido. No emtanto, não sabemos se o mesmo acontece com esta IA da Meta. Da mesma forma que ela guarda em seus servidores todo o histórico das conversas, por qual motivo não daria acesso a esse histórico para a sua ferramenta de aprendizado de máquina? Por via das dúvidas, devemos considerar que esta ferramenta terá acesso a todo o histórico de conversas do grupo. Como disse, por quê ela não teria?
A Meta / Facebook já nos deu mais do que uma vez provas de que não faz exatamente o que fala que faz; lembra do caso do advogado belga retratado no filme “terms and conditions may apply” [8]? Então, mesmo que o dono de um grupo não queira esta funcionalidade e retire a IA, não há qualquer garantia de que todas as conversas anteriores já não tenham sido coletadas e agora abasteçam o aprendizado e os bancos da Meta / Facebook.
Isso é muito grave.
Com os dados de um sem numero de grupos e conversas, a empresa tem em suas mãos uma quantidade de informações inimaginável.
Ações de publicidade altamente direcionada no Instagram e no Facebook é o minimo que podemos esperar como consequência disso.
Entretanto penso que a coisa seja ainda mais grave e o buraco seja ainda mais profundo.
Pense na quntidade de grupos que você participa referentes a trabalho. Se voce trabalha em uma empresa com mais de 50 funcionarios, chances são que muita coisa da gestão da empresa aconteça justamente ali naquela plataforma. Pense nos grupos que envolvem os seus chefes. Pense nos grupos que envolvem os diretores da empresa; os tomadores de decisões.
Tudo o que eles disseram está abastecendo a IA da Meta e não há quem me prove que a Meta já não esteja fazendo isso.
O problema é que agora ficou público; talvez porque verdadeiramente tenha chegado o momento de coletar o retorno pelos 22 bilhões de dólares investidos em 2014.
Então, tão importantes quanto nossos dados e mensagens individuais, pensemos no impacto dessa ferramenta ter acesso a informações da gestão de milhares de empresas. Pense que os gestores, diretores e executivos conversam sobre assuntos delicados nesse aplicativo e a Meta agora formalmente sabe de tudo. No mínimo, saberá de tudo a partir de agora (pisca, pisca).
Tendo conhecimento do histórico e da falta de cuidado que a empresa tem com as informações que coleta, isso e assustador [9].
Não que ela não coletasse dados antes. Isso é bem possível e plausível, visto que ter inserido um novo membro nos grupos sem que ninguém fosse consultado é um indicativo de um comportamento altamente invasivo.
Reforçando, o que é grave neste momento é que isso está às claras.
Ou seja: é bem possivel que dados estejam sendo coletados há um bom tempo.
Mas, então, o quê fazer?
Tão certo quanto o desrespeito à privacidade por parte da Meta é saber que veremos muitos argumentos do tipo “Mas o WhatsApp já sabe de tudo mesmo, que mal faz?!”. Ou então a argumentação de que “já está tudo lá mesmo, não há o que fazer!”. Estes argumentos são preguiçosos e sabemos disso. Devemos lutar contra eles com contra-argumentos coerentes.
Pensemos nessa situação e sua analogia com a de uma pessoa que fuma há alguns anos e descobre um efizema pulmonar. Será que essa pessoa vai reagir com um “Ah, mas agora já estou com este efizema, não preciso parar de fumar!” ou será que ela é aconselhada pelo seu médico a parar de fumar em função disso? Eu acho que a segunda possibilidade é mais plausível. Se a pessoa quer manter-se viva, o ideal é que ela pare de fumar. Não é? Pelo menos é a mudança de atitude esperada. Sabemos já haver um dano, mas isso não significa que porque este dano ja esteja feito que nao exista mais solução. A solucao é parar de fumar.
Outro exemplo: uma pessoa que nunca cuidou da alimentação pode descobrir que tem diabetes antes dos 50 anos. O comportamento esperado é que exista uma mudança de hábitos para tentar parar o avanco da doença. Se a pessoa continuar com estes hábitos, as consequências podem ser a cegueira e amputação de membros. Nesse sentido, pessoas que descobrem que tem diabetes costumam mudar comportamentos.
Então. Tal qual uma pessoa que descobriu um efizema ou recebeu o diagnóstico de diabetes, devemos mudar de atitude. Meu argumento é que devamos evidenciar essa necessidade para todos. Por isso estou aqui.
O tempo que usamos esta plataforma causou um dano. A aplicação dessa IA nos chats é um sinal desse dano. Este dano pode não ser visível agora, mas sabemos que ele vai nos causar problemas em breve se seguirmos com este comportamento. A solução é mudar de comportamento.
Feito o dano, não quer dizer que esteja tudo perdido. A gente deve – como pessoas responsaveis – agir ativamente para impedir que o dano continue / aumente ou nos traga mais prejuízo.
Por isso, o que tem pra hoje é que a gente deve mudar de hábitos. Minha sugestão para o momento é usar o Signal [10].
Você pode ter dificuldade em convencer algumas pessoas, clientes ou colegas de trabalho, mas não deve deixar de tentar. Mude o que conseguir mudar para o Signal.
Note: This is the english version of a previous post written in portuguese
There has been much discussion about Jonathan Haidt’s book “The Anxious Generation.” I have discussed the ideas the author presents here and here. I still believe the text is very important and needs to be worked on/discussed. That’s what I attempt to do in this post.
The book has been among the bestsellers in both Brazil and the United States since its release. I don’t think this is a coincidence. Those involved in the education and upbringing of children, adolescents, and young adults have noticed the impact that interactive digital technologies have provided — whether for better or worse.
I would like to, within this proposal, bring the text into focus and discuss how it is being treated in some places I’ve seen/heard/read about. It’s peculiar that at least four researchers with solid and consistent work on the digital context and adolescent behavior have suggested that the issues raised by the author in his book are mere moral panic; minimizing the impacts of social media and mental health—especially of adolescents. I find it amusing that some of these researchers seem so angry about what’s in his book that they refuse to even mention it by name, yet they refer to the book’s points constantly. Recently, they expressed their views in three different podcasts on this topic, which is quite interesting to observe. You can listen to these episodes here, here, here, and here. The researchers in question are Candice Odgers, danah boyd, Alice Marwick, and Devorah Heitner.
I have read quite a bit of work by all these authors and frequently use texts written especially by danah boyd and Alice Marwick in my classes. What they say carries significant weight and helps me understand the world and the impacts of interactive digital technologies on the lives of children and adolescents. Their comments on Haidt’s text need to be carefully considered, as there are many important criticisms to take into account.
My interpretation, however, is that despite the criticisms, what Haidt addresses in his text needs to be a topic of discussion among parents and educators.
Indeed, we need to view Jonathan Haidt’s statements in perspective and not consider everything in his book as absolute truth or even understand it only as he has stated. We shouldn’t do that with any text by any author, to be clear. However, part of the criticisms from the authors mentioned above relate to the causal relationship Haidt posits between social media use and mental health problems in adolescents. Given the relationship he proposes between social media platforms as causes of observed mental health issues in adolescents, it must be understood that, although there seems to be an evident relationship, it is not necessarily causal.
Look, we—collectively—have had more access to tools, treatments, professionals, and diagnostic apparatus for mental health in recent years. This alone could help explain the increase in diagnoses of conditions related to worsening mental health. However, we need to understand that social dynamics are complex and many things are happening simultaneously. The rise in diagnoses coincides with the widespread adoption of social media platforms, but it also coincides with a series of other global events (wars, climate change, various conflicts, social inequality, injustices of all kinds… the list goes on).
This does not mean that there is no influence.
What I want to say here is that while it is somewhat naive and presumptuous to categorically state that social media platforms or even the emergence and use of smartphones are the cause of mental health problems in adolescents, it cannot be denied that social media platforms do influence our mental health. More on this later.
The main criticisms from the cited authors regarding Jonathan Haidt’s work directly address the point that the correlation and causation relationship he establishes between social media use and declining mental health is weak and there is insufficient evidence that it is the cause of the mental health issues we have observed (this is not speculation); especially concerning adolescents. Even considering the scenario from 2019, emphasized by the author in his arguments. These criticisms are indeed very important, and we always need to be careful not to let facts A and B occurring in the same period be understood as having a causal relationship with each other.
But it is also a fact that we need to always try to understand the general context in which a particular fact fits. What Jonathan Haidt discusses is quite related to what people perceive in their daily lives. Not by coincidence, as I mentioned at the beginning of the post, his book has been widely read around the world.
When I started writing this text on July 9, the book was the second most sold on The New York Times list, having been on the list for 14 weeks. I understand that this reverberation exists because those who are echoing what the author says in the book are seeing things happening. And that’s why I think we need to discuss the book’s topic.
The most eloquent argument that goes beyond the issue of causation relationships indicated by the four authors I mentioned earlier comes from people who discuss the impacts of interactive digital technologies on our lives with a techno-optimistic perspective. I understand this is the case with journalist Taylor Lorenz, who has an excellent podcast on digital culture called “Power User.” One of the referenced talks above was published on her podcast, when she interviewed danah boyd.
Taylor often criticizes Haidt’s text, classifying it as moral panic (danah boyd does the same). I especially recommend this video from Taylor Lorenz on the topic to help build an opinion about it:
Unfortunately, one thing I think is important for helping with the context here cannot be replicated. I was recently browsing Instagram when I came across a post that Taylor Lorenz commented on. Her comment was essentially a plea for us not to collectively agree with Haidt’s argument, which she classifies as moral panic.
As I said—due to the nature of the Instagram platform (which is awful)—I couldn’t locate this post again, which I remember being from a news outlet. What struck me about this example was Taylor Lorenz’s comment and the responses people made to her comment… when I stopped to read the responses, one mother’s comment stood out. It went something like, “Taylor, I know your work and would like to learn more about this because I’m noticing this at home.” Like this, many other responses mentioned that people understood the journalist’s argument but were seeing that adolescents and children in their circles were showing mental health problems or difficulties, not to mention issues related to family dynamics impacted by mobile device use.
What the mother alludes to in her response to the journalist is the decline in young people’s mental health. This is something I’m also noticing in my circles. So, this is an important thing to consider (not just from these two examples, but from the overall context we live in). There are indications that the research mentioned or discussed by Jonathan Haidt may be weak for establishing the causal relationship he proposes in the book. Regarding this, I understand it is accurate.
On the other hand, it must be recognized that we are experiencing serious issues related to social media platforms primarily. These issues are related and have a direct impact on people’s mental health.
So, what I’m saying is that it would be very naive of us not to consider the context of conflict we collectively see, for example, since 2013 in Brazil, and which also gained global proportions in 2016 with the presidential elections in the United States due to electoral periods.
We see what happened in Brazil in 2013 and 2014, which was intense political mobilization through the instrumentalization of social media platforms, and how this brought much more serious collective consequences than just arguing with relatives in WhatsApp groups. Both in the 2018 election and during the pandemic, we suffered collective consequences and developments due to the use of social media platforms, their instrumentalization and political appropriation, and the influence of these platforms on collective behavior.
Therefore, I reiterate, it would be very naive of us to recognize this in collective behavior and political organization in society and collective movements and behaviors around ideological issues in society, and to separate other possible developments, considering that social media platforms do not influence adolescents’ and children’s mental health.
I think it is an absurd naivety and wonder to recognize how the use of platforms affects our collective behavior and influences political and electoral decisions but to separate the development of children, adolescents, and young adults from this context. We are observing this in the world around us, which is why I think we need to put Jonathan Haidt’s reading into perspective, looking at it critically, but also acknowledging that social media platforms and communication tools mediated by digital technologies do indeed cause social and individual changes.
Criticisms of what Jonathan Haidt writes should not seek to completely invalidate what he is documenting. What is necessary is to focus on the unfortunate attempt to establish a causal relationship. This is the real weak point of his argument. However, I do not believe that his considerations on the decline in adolescent mental health and its potential connection to social media are disconnected from reality.
I think it’s important to consider and take into account that impacts related to the use of interactive digital technologies by adolescents certainly exist. However, I also understand that we may not yet have developed the methodological tools necessary to analyze this.
In this sense, I believe that when we have the appropriate methodological apparatus to understand this relationship (social media use/smartphones and mental health), we will see results of this impact. I think we will see this impact manifest in the future.
So, these children who are growing up today with screens in front of their faces all the time and are being educated with TikTok and similar platforms will certainly show consequences of this in their futures. We just don’t yet have the necessary methodological tools to talk about or assess this impact now.
In this sense, it’s interesting to note that it is quite peculiar to look from the perspective of those who were adolescents in the 1980s/1990s and who are now researchers in universities; who had a formation as we were exposed to, and to see arguments that smartphones or social media do not impact adolescent mental health.
We cannot simply say that. Continuing with the techno-optimistic argument that there are no impacts is reckless because we are looking at the impact these elements have on our lives as adults, and the tangible real-world experience is showing us something different.
Finally, I think this note might be useful to organize the argument as follows: we should neither ignore nor dismiss the impact of today’s children and adolescents having their phones in their hands all the time. Declaring the absence of influence from the perspective of someone who has already been formed, who was educated with books and is now an adult, and despite having great difficulty, can identify that the phone needs to be turned off, is too naive. To look at adolescents who are exposed to screens all the hours they are awake and say that this will not impact their mental health is almost a joke.
Muito tem se falado sobre o livro “A geração ansiosa” do Jonathan Haidt. Eu mesmo falei sobre as ideias que o autor defende aqui e aqui. Sigo achando que o texto é bem importante e precisa ser trabalhado / discutido. É o que tento fazer neste post.
O livro figura entre os mais vendidos nas listas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos desde o seu lançamento. Penso não ser por acaso. Quem está presente no processo de educação e formação de crianças, adolescentes e jovens adultos, tem percebido o impacto que as tecnologias digitais interativas tem proporcionado. Para o bem ou nem tanto.
Gostaria, dentro dessa proposta, de colocar o texto em pauta e falar sobre como ele está sendo tratado em alguns lugares que tenho visto / ouvido / lido. Peculiar que, pelo menos quatro pesquisadoras com produções bem sólidas e consistentes sobre o contexto digital e o comportamento e adolescentes tem colocado que as coisas que o autor fala em seu livro seriam puro pânico moral; minimizando os impactos colocados no livro referentes às mídias sociais e saúde mental – especialmente de adolescentes. Acho engraçado que parte dessas pesquisadoras têm tanta raiva parece do que está no livro dele que se recusam até a mencioná-lo pelo nome, mas fazem menção o tempo todo às colocações do livro e recentemente, elas se manifestaram em três podcasts diferentes sobre esse assunto, e isso é uma coisa bastante interessante de se perceber. Você pode ouvir estes episódios aqui, aqui, aqui e aqui. As pesquisadoras em questão são Candice Odgers, danah boyd, Alice Marwick e Devorah Heitner.
Já li um bocado de coisas escritas por todas estas autoras e uso com frequência textos escritos especialmente pela danah boyd e Alice Marwick em minhas aulas. O que elas falam tem grande peso e me ajudam bastante a entender o mundo e os impactos das tecnologias digitais interativas nas vidas de crianças e adolescentes. O que elas falam sobre o texto do Haidt precisa ser observado com atenção, porque há muitas críticas bem importantes a considerar.
Minha interpretação, no entanto, é a de que, apesar das críticas, o que Haidt trabalha em seu texto precisa ser assunto entre pais e educadores.
De fato, a gente tem que olhar as colocações do Jonathan Haidt em perspectiva e não colocar tudo o que está em seu livro como verdade absoluta ou mesmo entender que tem apenas o valor de face declarado por ele. A gente não deve fazer isso com nenhum texto de qualquer autor que seja, diga-se. No entanto, parte das críticas das autoras mencionadas acima se relaciona a relação de causa e efeito que o Jonathan Haidt coloca entre uso de mídia social e problemas de saúde mental em adolescentes. Tendo em vista esta relação que ele propõe entre o uso de plataformas sociais como causas de problemas observados na saúde mental de adolescentes, há que se compreender que, embora pareça ser evidente que existe uma relação, ela não necessariamente é de causa.
Vejam, temos – coletivamente – mais acesso a ferramentas, tratamentos, profissionais e demais aparatos de diagnóstico de saúde mental nos últimos anos. Isso, por si só, poderia ajudar a explicar o aumento de diagnóstico de condições relacionadas a piora de saúde mental das pessoas. No entanto, a gente precisa entender que as dinâmicas sociais são complexas e muitas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. O aumento de diagnósticos coincide com a adoção de plataformas sociais em larga escala, mas também coincide com uma série de outros acontecimentos globais (guerras, mudanças climáticas, conflitos de diferentes tipos, desigualdade social, injustiças de toda sorte… a lista não para).
Isso não quer dizer que não exista qualquer tipo de influência.
O que quero dizer aqui é que, embora seja um pouco inocente e presunçoso postular categoricamente que a causa dos problemas de saúde mental enfrentado por adolescentes seja as plataformas sociais ou mesmo a emergência e uso dos smartphones, não dá para negar que as plataformas sociais influenciam nossa saúde mental. Mais sobre isso adiante.
As principais críticas das autoras citadas sobre o trabalho do Jonathan Haidt vão direto no ponto de que a relação que ele estabelece de correlação e causalidade entre uso de mídias sociais e declínio na saúde mental das pessoas é fraca e não há evidências suficientes de que seja essa a causa do problema que temos visto (isso não é especulação) na saúde mental das pessoas; em especial de adolescentes. Mesmo levando em conta o cenário a partir de 2019, enfatizado pelo autor em seus argumentos. Evidentemente estas críticas são muito importantes e precisamos sempre tomar cuidado para que não deixemos que fatos A e B que acontecem em um mesmo período sejam entendidos como tendo uma relação de causa e consequência entre si.
Mas fato também é que precisamos sempre tentar compreender o cenário geral em que um determinado fato se encaixa. O que o Jonathan Haidt fala encontra bastante relação com o que as pessoas percebem no dia a dia. Não por acaso, como escrevi no começo do post, o livro dele tem sido muito lido mundo afora.
Quando comecei a escrever este texto no dia 09 de julho o livro era o segundo mais vendido na lista do The New York Times, estando na lista por 14 semanas. Entendo que essa reverberação existe porque quem está reverberando o que o autor fala no livro está vendo coisas acontecerem. E é por isso que penso que temos que conversar sobre o assunto do livro.
Para quem não teve a oportunidade de ler o livro ou o artigo que ajudou a lançar o livro publicado na revista The Atlantic, recomendo acompanhar a fala do autor apresentando o livro e suas ideias em um evento bem bacana do Center for Humane Technology. Você pode assistir esta fala aqui:
O argumento mais eloquente que vai além da questão das relações de causalidade indicado pelas quatro autoras que mencionei antes vem de pessoas que discutem os impactos das tecnologias digitais interativas em nossas vidas com uma perspectiva tecno-otimista. Entendo ser o caso da jornalista Taylor Lorenz, que tem um excelente podcast sobre cultura digital chamado “Power User“. Uma das falas referenciadas acima foi publicada no podcast dela, quando entrevistou a danah boyd.
Taylor frequentemente critica o texto de Haidt classificando-o como pânico moral (danah boyd faz o mesmo). Recomendo em especial este vídeo da Taylor Lorenz sobre o assunto para ajudar a construir uma reflexão sobre o assunto:
Infelizmente uma coisa que penso ser importante para ajudar no contexto aqui não é possível replicar. Recentemente estava navegando pelo Instagram quando me foi recomendada uma postagem que a Taylor Lorenz comentou. O comentário dela foi justamente um grito para que não concordemos coletivamente com o argumento de Haidt sobre o que ela qualifica como panico moral.
Como disse – por causa da natureza da plataforma Instagram (que é um lixo) – eu não consegui localizar novamente esta postagem que lembro-me apenas ser de um veículo de notícia. O que me marcou nesse exemplo foi o comentário da Taylor Lorenz e as respostas que pessoas colocaram ao comentário dela… quando parei para ler as respostas das pessoas sobre o que ela havia comentado, chama atenção o que uma mãe falou para ela. Era mais ou menos assim “Taylor, conheço seu trabalho e gostaria de saber mais sobre isso, porque eu estou percebendo isso na minha casa”. Como esta, várias outras respostas mencionavam este aspecto de que as pessoas entendiam o argumento da jornalista, mas estavam percebendo justamente que os adolescentes e crianças de seu convívio demonstravam problemas ou dificuldades relacionadas a saúde mental, sem mencionar as questões relacionadas às dinâmicas familiares impactadas pelo uso de dispositivos móveis.
O isso que a mãe faz alusão na resposta à jornalista é o definhamento da saúde mental de jovens. É o que eu estou percebendo também em meus círculos. Então isso é uma coisa importante de levar em consideração (não apenas por estes dois exemplos, mas pelo contexto geral que vivemos). Há indícios de que as pesquisas faladas ou mencionadas pelo Jonathan Haidt sejam fracas para que se estabeleça a relação de causalidade que ele estabelece no livro. Quanto a isso, entendo ser algo acertado.
Por outro lado, há de se perceber que estamos vivenciando questões graves relacionadas às mídias sociais às plataformas sociais principalmente. Estas questões se relacionam e têm impacto direto na saúde mental das pessoas.
Então, o que quero dizer é que vai ser muito inocente de nossa parte não considerar o contexto de conflito a gente coletivamente vê, por exemplo, desde 2013 no Brasil e que, também em virtude de período eleitoral, ganhou proporcóes mundiais em 2016 com as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
A gente vê o que aconteceu aqui no Brasil em 2013 e 2014, que foi uma intensa movimentação política a partir da instrumentalização das plataformas sociais e como isso foi trabalhado trazendo consequências coletivas muito mais graves do que apenas brigarmos com parentes em grupos de WhatsApp. Tanto na eleição de 2018 quanto durante o período de pandemia a gente sofreu coletivamente consequências e desdobramentos que se deram em função do uso das plataformas sociais, da sua instrumentalização e apropriação política e da influência dessas plataformas no comportamento coletivo.
Portanto, reforço, vai ser muito inocente da nossa parte perceber isso no comportamento coletivo e organização política da sociedade e movimentação coletiva e comportamentos em volta de questões ideológicas na sociedade e separar outros possíveis desdobramentos, ponderando que as plataformas sociais não influenciam a saúde mental dos adolescentes e crianças.
Penso ser de uma inocência e deslumbre absurdos a gente perceber como o uso das plataformas afetas nosso coomportamento coletivo e influencia decisões políticas e eleitorais mas separar o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens adultos desse contexto. Estamos percebendo isso no mundo ao nosso redor, por isso penso que precisamos, claro, colocar essa leitura do Jonathan Haidt em perspectiva, olhando com o olhar crítico, mas também ter em conta que as plataformas sociais e os instrumentos de comunicação mediados por tecnologias digitais que temos usado proporcionam sim alterações sociais e individuais.
As críticas ao que Jonathan Haidt escreve não devem buscar invalidar por completo o que ele está registrando. Acho que necessário é focar na tentativa infeliz de estabelecer relação de causa e consequência. Este é o ponto realmente fraco de seu argumento. Entretanto, não creio que as considerações que ele faz sobre o definhamento da saúde mental de adolescentes e sua eventual relação com as mídias sociais sejam algo desprovido de conexão com a realidade.
Penso ser importante considerar e levar em conta que impactos referentes ao uso de tecnologias digitais interativas por adolescentes certamente existem. No entanto, entendo também que talvez não tenhamos desenvolvido ainda o instrumental metodológico necessário para poder fazer essa análise.
Nesse sentido, eu entendo que, quando o aparato metodológico apropriado para enxergar esta relação (uso de mídias sociais / smartphones e saúde mental) a gente vai ver resultados desse impacto. Penso que veremos a manifestação desse impacto no futuro.
Então, essas crianças que estão se desenvolvendo hoje com a tela na frente dos seus rostos o tempo todo que elas estão crescendo e sendo alfabetizadas com o TikTok e congêneres, certamente apresentarão consequências disso em seus futuros. Apenas não temos ainda o instrumental metodológico necessário para falar ou para avaliar esse impacto agora.
Nesse sentido, interessante registrar que é bastante peculiar olhar com o olhar da formação que tivemos (pessoas que foram adolescentes nos anos 1980/1990) e que somos hoje os pesquisadores nas universidades; que tivemos uma formação como à que fomos expostos e ver argumentos de que o smartphone ou as mídias sociais não proporcionam um impacto na saúde mental do adolescente.
Nós não podemos simplesmente falar isso. Seguir com a argumentação tecno-otimista de que não há impactos é leviano porque estamos olhando o impacto que estes elementos tem na nossa vida como adultos e a experiência real do mundo palpável está nos mostrando / evidenciando outra coisa.
Por fim, penso que essa nota poderá ser útil pra organizar o argumento no seguinte sentido: não devemos nem podemos olhar a criança de hoje e falar que ela ou o adolescente com o celular em mãos o tempo todo não recebem impacto dessas tecnologias e das mídias sociais em suas formações. Declarar a ausência de influência com o olhar de quem já é formado, de quem foi formado com livros e que hoje é adulto, e, apesar de ter muita dificuldade, consegue identificar que o telefone precisa ficar desligado, por exemplo, é inocente demais. Olhar o adolescente que hoje fica exposto a telas durante todas as horas que está acordado e falar que isso não vai ter impacto em sua saúde mental é quase uma piada.
Quando você abre uma janela anônima em seu navegador, esta ação é executada com a esperança e o pressuposto de que as coisas que você acessar naquela sessão não serão registradas e nenhum dado relacionado às atividades ali executadas será coletado.
Esta funcionalidade é especialmente útil para quando você, por exemplo, vai usar um navegador de terceiros em um computador público (digamos, uma biblioteca) para checar seu e-mail. O uso de uma janela anônima nos dá a garantia de que ao fechar aquela janela, tudo será apagado (histórico, dados enviados em formulários ou qualquer outra informação que permita quem quer que seja a identificar a pessoa que usou aquele recurso.
No entanto, se você faz isso usando um navegador Google Chrome, não necessariamente isso é verdade.
O interessante desta notícia é que a manchete, em minha opinião, não deveria ser esta. A manchete deveria ser: O Google mentiu para todos os usuários do Chrome por muito tempo, levando-os a crer que o modo anônimo era uma maneira de não ter as suas ações devidamente registradas e nem ter dados coletados.
Entendo que isso é uma questão muito grave, que evidencia a desconsideração para com as necessidades e expectativas dos usuários em uma postura enganosa e prejudicial.
Como falo no vídeo abaixo, a ação inicial que todas as pessoas que usam este navegador devem fazer imediatamente é deixar de usa-lo.
Estamos em 2024 e os navegadores modernos são praticamente equivalentes em termos de funcionamento. Nesse sentido, usar um navegador que não te respeita feito por uma empresa que mente para você, não é uma escolha sadia.
Minha indicação no momento é o Mozilla Firefox, que funciona excelentemente bem em qualquer plataforma (Mac, Windows, Linux, Android e iOS).
This image represents a very serious issue regarding social media platforms that are commercially exploited, rely on algorithmic manipulation and have a business model of selling advertising space.
The image shows a post from a user who has over 6,000 followers and post display data that records that only a fraction of these followers saw the message.
Prior to the X-transformation, this post view data was not public. I understand that the display of this data broadly highlights the reach restriction imposed on profiles, which is quite detrimental to the use of the platform for messages that followers sign up to receive and that are important (such as weather and traffic services, for example).
Why would you follow an entity that sends weather alerts (such as rain and storms) on a platform like this? There is a great risk that you will never see an important update that could save your life.
Social media, by definition, is for sharing content. This content can be video, text, images and even links to other content that we can access on the web. This process of empowering people with the ability to share provides many social benefits.
Instagram is a social media platform built with the aim not of helping people or society, but rather with the function of generating profit/revenue for its owners through the sale of advertising. That’s why the product is built in such a malicious way. There is not the slightest desire to provide a product that people can leave to consume content elsewhere. Even if it’s just for a few minutes.
I decided to record a video to demonstrate how ridiculous this is. I was browsing the content on Instagram and decided to access the stories of the profiles I follow. One person shared in stories a reference to a text that could be interesting. The process of accessing this post, having to return to the profile home page to consult the link, clicking to access a secondary list of links and, only then, finally being able to access the content and then choosing to open the given link in my main browser is ludicrous.
I had to tap the screen seven times to access a link.
The amount of effort that the user needs to exert to be able to carry out a simple activity on this platform drives me crazy. I lack the rationality (or perhaps intelligence to understand the genius behind it) to understand why a platform that makes it so difficult to carry out a simple action can be so adopted and used.
I am very bothered by the greed that drives this development and, perhaps, that is why I have never been able to effectively use this service.
It’s a bad and evil product. It doesn’t matter how many people use it. Whoever is involved in it knows this and, in fact, it is something open. It’s a bad product.
Semana passada eu recebi um texto muito interessante na newsletter do The Atlantic que trata de como as telas de celular proporcionam impactos no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. O texto é uma espécie de resumo de um livro que está sendo lançado do Jonathan Haidt. Deixo a vocês uma versão que traduzi, aqui.
Resolvi gravar um vídeo falando um pouco sobre este texto:
Como achei que o vídeo acabou ficando um pouco curto, achei melhor complementar. Eis um segundo vídeo sobre o texto:
Gostaria de saber o que vocês acham sobre isso a partir dos seus comentários. Vocês tem percebido esta alteração no desenvolvimento das crianças e adolescentes?